Cinema brasileiro em Londres!

Por essa não esperava. Já um tanto triste de estar desatualizadíssimo na produção cinematográfica brasileira – tendo que apelar para empréstimos ´downloadeados´ de amigos – eis que me deparo não com um mas com dois festivais de cinema brasileiro por aqui!! Depois de poder curtir Vanessa da Mata e Mariana Aydar (e em breve Céu!) nos palcos londrinos, foi a vez da sétima arte brazuca dar o da graça!

 O primeiro festival foi no Riverside Studios, com 20 filmes (incluindo curtas, exibidos antes de cada longa). E o outro no Barbican Centre, um dos meus lugares preferidos em Londres, que selecionou 14 filmes.

No total, comprei ingresso pra 12 filmes. Destes já tinha visto dois: Saneamento Básico e Última Parada 174. Resolvi revê-los por causa das Q&A (question & answers), como eles chamam aqui o debate depois do filme, com perguntas do público para os diretores e/ou atores.

 É um tanto curioso assistir aos filmes com legenda em inglês. O hábito força os olhos a descerem pras letras, mesmo que, obviamente, não se precise delas pra entender. Depois fica-se com a mania de ler o que diz a tradução. E o que se pega de furo na legenda é piada! Comédia pura!

 

Eucir de Souza, ator de "Se Nada Mais Der Certo", que abriu o festival no Barbican Centre

Eucir de Souza, ator de "Se Nada Mais Der Certo", que abriu o festival no Barbican Centre

Algumas participações, menos “badaladas”, foram de Eucir de Souza, ator do filme Se Nada Mais Der Certo, que abriu o festival no Barbican. Ele foi o ator principal do Meu Mundo em Perigo, longa anterior do José Eduardo Belmonte, que não vi (mas quero muito ver). O próprio Belmonte deveria estar na Q&A mas perdeu o vôo e só apareceu pra sessão de A Concepção, no dia seguinte (não fui, pois já vi e tava trabalhando). Outra Q&A pouco vista mas muito boa, foi com a Zita Carvalhosa, diretora da ONG Kinoforum e produtora dos documentários do Evaldo Mocarzel. Muito simpática e inteligente, falou coisas interessantíssimas sobre Jardim Ângela.

 

Miss Simpatia do festival: Glória Pires

Miss Simpatia do festival: Glória Pires

Glória Pires foi uma simpatia sem tamanho. Simplíssima, sorridente e emocionada. Sentei na poltrona ao lado dela! Enquanto ela conversava com uma mulher ao meu outro lado – que a conheceu um dia antes, andando sozinha de metrô! – eu ficava no meio, meio apatetado achando tudo muito surreal. No final da Q&A, quando o público meio que avançou pra pedir foto, fui pra volta também, claro, e enquanto ela posava pras fotos, eu fiz quase uma minientrevista, perguntando sobre o filme do Lula, que ela já filmou e vai lançar em janeiro! Depois, claro, uma fotinha pra coleção. Uma simpatia! E Se Eu Fosse Você 2 pode ser global ao máximo, mas é muito engraçado. Mais até que o primeiro.

 

Do começo ao fim do festival: Murilo "arroz de festa" Rosa

Do começo ao fim do festival: Murilo "arroz-de-festa" Rosa

Murilo Rosa foi o arroz-de-festa do festival. Chegou na quinta, primeiro dia da seleção, enquanto Orquestra dos Meninos só iria ser exibido no domingo. Acabou dividindo as atenções do público e (alguma) mídia com Glória Pires. Achei o filme dele bem tolinho. A história é inspiradora, com certeza, mas o filme não pode ser mais comum. Exagera na trilha sonora, compromete na montagem e desperdiça atores como Othon Bastos e até Priscila Fantin, que faz quase uma ponta que beira o constrangedor. Claro que, por ter ficado lá todos os dias do festival, acabou com seu filme levando o prêmio do público. Previsível ao cubo.

 Ainda no Riverside Studios, conversei com a Ana Luiza Azevedo, diretora gaúcha da Casa de Cinema. Adorei o filme dela – Antes que o Mundo Acabe, estréia dela em longas. Adoro todos os curtas dela – Barbosa, Três Minutos, Dona Cristina Perdeu a Memória – e lamentei muito não ter a minha caixa de DVDs da Casa pra ela autografar. Mas ela foi uma simpatia. Perguntei como iam os projetos da Casa, como anda o RS etc. Fiquei mais fã ainda.

 

Dá pra dizer pela cara que Bruno Barreto não é o ser mais simpático do planeta né?

Dá pra dizer pela cara que Bruno Barreto não é o ser mais simpático do planeta né?

Bruno Barreto é aquela “simpatia” que parece. Cortês e politicamente educado, mas longe de ser acessivel. Talvez muito hollywoodiano para uma platéia não “tão nobre”, sei lá. Com um inglês irritantemente americanizado (ok, talvez eu já esteja com o ouvido um pouquinho viciado), falou sobre a importância social de seu filme e, felizmente, louvou o infinitamente superior Ônibus 174, do José Padilha, o qual considera “um dos melhores filmes de todos os tempos”. Falou o diretor da maior bilheteria nacional de … todos os tempos! Justo.

 

 O Barbican é um luxo. Não bastassem as instalações lindas e imponentes, o bom gosto que vai dos bares aos jardins, passando, claro pela programação. Fiquei fã da Adriana Rouanet – filha do célebre Sérgio Roaunet, criador da Lei de Incentivo à Cultura – que é responsável pela curadoria da mostra e dá aula de cinema brasileiro em uma faculdade daqui. Conversei um pouquinho com ela, que falou do doutorado em cinema que tá fazendo (um dos meus alvos “de consumo” futuros, porque não) e tanto me viu falando com os convidados e tirando fotos, que no fim brincou que eu já era praticamente “o jornalista oficial do festival”.

Eterno casal 20: Carlos Alberto Riccelli e Bruna Lombardi, diretor e atriz/roteirista de "O Signo da Cidade"

Eterno casal 20: Carlos Alberto Riccelli e Bruna Lombardi, diretor e atriz/roteirista de "O Signo da Cidade"

Esse segundo festival teve muita coisa que já tinha visto. Muita coisa boa, diga-se, de Cidade Baixa a Chega de Saudade, passando por Estamira e, claro, Saneamento Básico. Dos filmes que vi lá, me surpreendi com o do eterno casal Bruna Lombardi e Carlos Alberto Riccelli. Já tinha lido coisas interessantes sobre o filme, mas não esperava tanto. Achei o roteiro dela bem impressionante, interessante, humano e, na medida do possível, bem amarrado. Tá longe de ser um Robert Altman, óbvio, mas me emocionou. Assim como ela própria me surpreendeu. Não pela sua beleza – sim aos 57 anos, ainda é bonita – mas pelo seu bom humor. No Q&A lançou ótimas sacadas e algumas piadinhas internas espertas, todas em inglês! Te mete. Ele, apesar de diretor, me pareceu o coadjuvante. No final, palmas, gritinhos e muita tietagem.

 

Ídolo-mor: conterrâneo Jorge Furtado.. precisou vir pra Londres pra eu finalmente conhecer!!

Ídolo-mor: conterrâneo Jorge Furtado.. precisou vir pra Londres pra eu finalmente conhecer!!

Mas claro que o ponto alto foi a última sessão (pra mim). Meu conterrâneo ilustre, querido e genial Jorge Furtado. Sendo entrevistado pelo Demetrios Matheu, jornalista bem respeitado aqui do Guardian e da Sight & Sound e que rasgou seda pra ele, falou – em português – maravilhas sobre as filmagens, babou ovo pro Lula e, exclusivamente pra mim :), contou que acabou de concluir o roteiro do novo filme do Fernando Meirelles, adaptação do romance dele próprio “Trabalhos de Amor Perdidos”, por sua vez inspirado em Shakespeare. Será em inglês, filmado em NY, provavelmente pro ano que vem. Quem consegue esperar por essa dupla hein?!

Um adendo: também lá conheci a Maria José, que é mãe do namorado da irmã do Jean Charles de Menezes. Contou como o filho participou da versão pro cinema do filme e me prometeu até um convite pra sessão exclusiva pra convidados do filme (com direito a Selton Mello, ao que parece) que vai ter em breve. Aguardemos…

Pela ordem de preferência, os filmes que vi no festival:

1. Saneamento Básico – O Filme

2. O Signo da Cidade

3. Antes que o Mundo Acabe

4. Feliz Natal

5. Divã

6. Se Eu Fosse Você 2

7. Apenas o Fim

8. Últma Parada 174

9. Se Nada Mais Der Certo

10. Verônica

11. Jardim Ângela

12. Orquestra dos Meninos

 Melhor Filme: Saneamento Básico – O Filme & O Signo da Cidade

Melhor Diretor: Selton Mello (Feliz Natal) & Jorge Furtado (Saneamento Básico)

Melhor Ator: Leonardo Medeiros (Feliz Natal) & Tony Ramos (Se Eu Fose Você 2)

Melhor Atriz: Fernanda Torres (Saneamento Básico) & Lília Cabral (Divã)

Melhor Ator Coadjuvante: Paulo José (Saneamento Básico) & Juca de Oliveira (O Signo da Cidade)

Melhor Atriz Coadjuvante: Graziella Moretto (Feliz Natal & O Signo da Cidade) & Darlene Glória (Feliz Natal)

 

PS: Mais fotos no Orkut.

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